segunda-feira, 18 de agosto de 2014
PORQUE CONFIAR EM ALGUÉM
primeiro em quem?
porque confiar em alguém?
Ela se deu conta, depois de vários dias diferentes da sua rotina, que tudo havia mudado. Não estava fora da sua rotina, e sim em outra rota. Tal constatação foi como abraçar o desconhecido novo sem medo de errar, confiando nas palavras daquelas pessoas que escolheu estarem ao seu lado. Tal confiança foi como uma conquista, que lhe fez sentir a liberdade, a paz espiritual e o que pode ser o amor. Ela deixou-se levar por tudo aquilo que sempre procurou e não sabia onde encontrar, mas tudo estava ali, a alguns quilômetros de suas mãos.
porque confiar em alguém?
Ela se deu conta, depois de vários dias diferentes da sua rotina, que tudo havia mudado. Não estava fora da sua rotina, e sim em outra rota. Tal constatação foi como abraçar o desconhecido novo sem medo de errar, confiando nas palavras daquelas pessoas que escolheu estarem ao seu lado. Tal confiança foi como uma conquista, que lhe fez sentir a liberdade, a paz espiritual e o que pode ser o amor. Ela deixou-se levar por tudo aquilo que sempre procurou e não sabia onde encontrar, mas tudo estava ali, a alguns quilômetros de suas mãos.
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
LATÊNCIA
latente no meu corpo
um desejo autêntico
de você, apenas você
nada mais me satisfaz
além do gosto fálico
dos seus poros suados
toco no fundo da sua alma
com mãos de almofadas
buscando tocar o seu céu
querendo ser toda sua
consumir nossos corpos em brasa
até deixar de ser notada
um desejo autêntico
de você, apenas você
nada mais me satisfaz
além do gosto fálico
dos seus poros suados
toco no fundo da sua alma
com mãos de almofadas
buscando tocar o seu céu
querendo ser toda sua
consumir nossos corpos em brasa
até deixar de ser notada
quarta-feira, 23 de julho de 2014
NÓS NO PEITO
nada em si era mudo
tudo é mais mundo
não vejo absurdo
na intenção de viver
não tem mais muro
nem menos para nós
nós no peito
nos atam em nós
tudo é mais mundo
não vejo absurdo
na intenção de viver
não tem mais muro
nem menos para nós
nós no peito
nos atam em nós
NOVOS ARES
sinto os ares da paixão
ventilando pelos poros
sua forma sobrenatural
é deslumbrante...
vento que rodopia cabeça
falta de ar, calafrios
já não penso nada além da sua pele
nada além do desejo
além do medo de te perder
sem antes ter você
são novos ares e vales
horizontes de mares e amores
me deixei exatamente aqui
perdida de tanto me apaixonar
ventilando pelos poros
sua forma sobrenatural
é deslumbrante...
vento que rodopia cabeça
falta de ar, calafrios
já não penso nada além da sua pele
nada além do desejo
além do medo de te perder
sem antes ter você
são novos ares e vales
horizontes de mares e amores
me deixei exatamente aqui
perdida de tanto me apaixonar
SOMENTE VOCÊ
de repente sentir
saber e perceber
que somente você
poderia me fazer
sentir, perceber
e saber
que é só você
saber e perceber
que somente você
poderia me fazer
sentir, perceber
e saber
que é só você
DE MÃOS DADAS PELA ESCURIDÃO
da areia que arranha os olhos
e lhe retém a visão
brotam cristais de puro brilho
uma luz que cega os olhos
mas ultrapassa a escuridão
e encontra suas mãos dadas à minhas
Kátia Kirino
e lhe retém a visão
brotam cristais de puro brilho
uma luz que cega os olhos
mas ultrapassa a escuridão
e encontra suas mãos dadas à minhas
Kátia Kirino
MEU MELHOR
para você
o melhor do que posso
o melhor do que tenho
o melhor do que sei
para você o melhor
o melhor que tem
em mim é seu
é você
o melhor do que posso
o melhor do que tenho
o melhor do que sei
para você o melhor
o melhor que tem
em mim é seu
é você
quinta-feira, 10 de julho de 2014
HAIKKAIS
HAIKKAIS
Kátia Kirino
O ideograma KAWA - Rio , fluxo de água corrente, representa (na vertical) o esquema do haikai. "O sangue dos três versos escorrendo na parede da página..." Paulo Leminski |
HAIKKAI
agora a casa caiu
e o haikai passou por
mim
amor à primeira rima
NÃO HESITE EM DIZER
bendita a pala
vra bem dita a
palavra
ela não hesita
CERTEZA
se eu fosse talvez
eu não estaria ainda
viva
no fundo do poço
TATOO
o poema na pele
arrepia os pelos do
corpo
pelos versos pelados
PRINCESA LOUCA
as calcinhas perdidas
um conto de fadas
fatídico
o príncipe
desencantado
CANTIGAS
I
haicai balão hai
cai cai balão hai cai
hai
cai na minha mão
CANTIGAS
II
não haicai não
haicai não haicai aqui na
minha mão balão
CANTIGAS
III
vou lá não vou
lá não haicai na rua do
sabão cai não
AO POETA
eu fito um poema
o poema fita comigo
ficamos juntos
JORGE SENTOU
Jorge Guerreiro
guardo o teu cavalo
a festa começou
FRIO
vento soprou frio
veste o agasalho
menina
me deu calafrio
HOMEM UNIversus
era um homem
demasiado
humano
sem sapiens(cia)
PROCURA INFINITA
estou procurando
estou procurando
estou
procurando estou
AUSÊNCIA
alegria difícil
dormir sem você
e acordar só eu
VASO QUEBRADO
flores no balcão
flores despetaladas
flores no chão
REFERÊNCIAS
I
para Leminski
toda poesia de Paulo
declama haicai
II
dancei para ti
um samba meio jazz
que fala de Noel
III
ARGUMENTO MIA COUTO
palavras nos fazem
ser
palavras fazem-no
deixar de ser
palavras para
sobreviver
IV
BASHÕ
o momento interior
é a hora santa da
catarse
da poesia perfeita
SOBRE O TEMPO
tempo que passa
incólume e urgente
nos deixa marcas
TEMPO O SOBRE
tempo que passa
urgente e incólume
nos leva saudade
TOCANTE
toca fundo a minha
alma
mas o corpo geme e
suplica
sua impressão digital
PÁRA RAIOS
não ser nunca o céu
para as suas
tempestades
ser (a) sua calmaria
CAUSO
era noite de à gosto
sonhei com prima Vera
acordei com Dolores
MEIA ESTAÇÃO
em meados de maio
prenúncio do inverno
no meu coração
CAOSMOLOGIA
será possível fazer?
anular o impassível
tempo
adormecer a morte?
POESIA INÚTIL DE P.L.
fazia poesia vazia
tudo vazava sem
porquê
havia muito querer
LONGÍNQUA LUZ
quando morrem
estrelas
nascem imagens do
passado
nas janelas do
sobrado
INTRANSIGENTE
não sabe o
intolerante
que ele é aquilo que
não tolera
e isso é intolerável
DESILUSÃO
indiferente amor
indiferente sono
acordado
indiferente dor
DISTÂNCIAS
um vácuo existe
entre eu e eu contigo
um vácuo divino
PARTIDA
as únicas palavras
que ficam para todo o
sempre
são as que dizem
adeus
quarta-feira, 28 de maio de 2014
UNS WHISKYS E OUTRAS MENTIRAS
vice versão
se alguém me falar: fique
eu direi: vamos
vai-se o verso
Kátia Kirino
_________________
quando?
o pretérito do seu presente
vai virar passado?
Kátia Kirino
____________________________
saber aquilo?
Hunrum!
ou um whisky?
Kátia Kirino
_____________________________________________
Descobri.
você é muito barato
para o que eu posso
bancar sozinha
Kátia Kirino
___________________________________________________________________
Confesso o meu desejo de me desconectar com aqui para me conectar com o lá. (K. Kereno)
se alguém me falar: fique
eu direi: vamos
vai-se o verso
Kátia Kirino
_________________
quando?
o pretérito do seu presente
vai virar passado?
Kátia Kirino
____________________________
saber aquilo?
Hunrum!
ou um whisky?
Kátia Kirino
_____________________________________________
Descobri.
você é muito barato
para o que eu posso
bancar sozinha
Kátia Kirino
___________________________________________________________________
Confesso o meu desejo de me desconectar com aqui para me conectar com o lá. (K. Kereno)
sábado, 24 de maio de 2014
É TODO SEU
eu lhe causo ciúmes
porém me esforço
músculo por músculo
para escrever meu nome
com K maiúsculo
não que o seu m
seja Minúsculo
somos farinha do mesmo moinho
o que eu causo
é "causo" de mineiro
caso perdido... fique
Kátia Kirino
porém me esforço
músculo por músculo
para escrever meu nome
com K maiúsculo
não que o seu m
seja Minúsculo
somos farinha do mesmo moinho
o que eu causo
é "causo" de mineiro
caso perdido... fique
Kátia Kirino
terça-feira, 20 de maio de 2014
quinta-feira, 15 de maio de 2014
ArmaDura
não desejo vestir a roupa
de amante que você teceu
vou usar meu vestido cândido
vou cantar no meu cio oscilante
de trajes alheios tenho receio
prefiro minha roupa usada
trapos, farrapos, remendos
prefiro vestir minha armadura
de ventos....
de amante que você teceu
vou usar meu vestido cândido
vou cantar no meu cio oscilante
de trajes alheios tenho receio
prefiro minha roupa usada
trapos, farrapos, remendos
prefiro vestir minha armadura
de ventos....
quarta-feira, 7 de maio de 2014
CICATRIZ
meu corpo palavra
meu corpo apodrece
corpos apodrecem...
meu copo transborda
eu te reescrevo
meu corpo abandono
eu me abandonei em você
meu corpo excesso
eu fiquei vazia
Resende está vazia
meu corpo ponto final
morada da dor
quebraram minhas pernas
chutaram minha cara
mas faço valer cada cicatriz
meu corpo sobrevive
eu sobrevivo
meu corpo apodrece
corpos apodrecem...
meu copo transborda
eu te reescrevo
meu corpo abandono
eu me abandonei em você
meu corpo excesso
eu fiquei vazia
Resende está vazia
meu corpo ponto final
morada da dor
quebraram minhas pernas
chutaram minha cara
mas faço valer cada cicatriz
meu corpo sobrevive
eu sobrevivo
Woods Witch - Roberto Robert |
segunda-feira, 5 de maio de 2014
SEM RAZÃO DE SER
sou inadequada
com minhas botas largas
e uma sinceridade cortante
sou iluminada
com minhas próprias ideias
cadeia de velha corrente
sou amasiada
amante do amigo distante
cadela vadia errante
sou emancipada
dona do nada distante
leoa fingindo balança
nem zoológico
nem zodíaco
cada quadrado no seu arco
cada carinho um encontro
cada palavra consolo
cada prótese hipótese
sou mundana
cuja fulana falada
amaldiçoada profana
sou o que resta da festa
aquela que se diverte
até o final da noite
sou um açoite
uma coisa qualquer
escondida na luz
vaca franga porca
peixa adicta deixa nexo
inverso da cruz, hipófise
sou o nada
olhado do tudo
tubo sub mundo
escara
com minhas botas largas
e uma sinceridade cortante
sou iluminada
com minhas próprias ideias
cadeia de velha corrente
sou amasiada
amante do amigo distante
cadela vadia errante
sou emancipada
dona do nada distante
leoa fingindo balança
nem zoológico
nem zodíaco
cada quadrado no seu arco
cada carinho um encontro
cada palavra consolo
cada prótese hipótese
sou mundana
cuja fulana falada
amaldiçoada profana
sou o que resta da festa
aquela que se diverte
até o final da noite
sou um açoite
uma coisa qualquer
escondida na luz
vaca franga porca
peixa adicta deixa nexo
inverso da cruz, hipófise
sou o nada
olhado do tudo
tubo sub mundo
escara
domingo, 27 de abril de 2014
MANOEL DE BARROS
http://www.elfikurten.com.br/2011/02/manoel-de-barros-natureza-e-sua-fonte.html
Este link é do Blog Tempo Cultural Delfos e tem a maior pesquisa on line sobre o escritor que eu encontrei aqui na internet. A sua trajetória e biografia estão lá. Vou registrar aqui apenas algumas poesias simplesmente maravilhosas. Degustem.
O poeta
(...)
- Manoel de Barros, em "Memórias inventadas: a segunda infância".
"O Tempo só anda de ida.
Este link é do Blog Tempo Cultural Delfos e tem a maior pesquisa on line sobre o escritor que eu encontrei aqui na internet. A sua trajetória e biografia estão lá. Vou registrar aqui apenas algumas poesias simplesmente maravilhosas. Degustem.
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não uso das palavras
Fatigadas de informar.
Dou mais respeito
Às que vivem de barriga no chão
Tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou importância às coisas desimportantes
E aos seres desimportantes
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais do que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios
Amo os restos
Como boas moscas.
Queria que minha voz tivesse formato de canto
Porque não sou da informática
Eu sou da invencionática.
Só uso minhas palavras para compor meus silêncios.
- Manoel de Barros, do livro "Memórias inventadas – As Infâncias", São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. p. 47.O poeta
Vão dizer que não existo propriamente dito
Que sou um ente de sílabas.
Vão dizer que eu tenho vocação para ninguém.
Meu pai costumava me alertar:
Quem acha bonito e pode passar a vida a ouvir o som
das palavras
Ou é ninguém ou é zoró.
Eu teria treze anos.
De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que
se perdia nos longes da Bolívia
E veio uma iluminura em mim.
Foi a primeira iluminura.
Daí botei meu primeiro verso:
Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.
Mostrei a obra pra minha mãe.
A mãe falou:
Agora você vai ter que assumir suas irresponsabilidades.
Eu assumi: entrei no mundo das imagens.
- Manoel de Barros, em "Ensaios fotográficos", Rio de Janeiro: Record, 2000.
Tempo
"Eu
não amava que botassem data na minha existência. A gente usava mais era
encher o tempo. Nossa data maior era o quando. O quando mandava em nós.
A gente era o que quisesse ser só usando esse advérbio. Assim, por
exemplo: tem hora que eu sou quando uma árvore e podia apreciar melhor
os passarinhos. Ou: tem hora que eu sou quando uma pedra. E sendo uma
pedra eu posso conviver com os lagartos e os musgos. Assim: tem hora eu
sou quando um rio. E as garças me beijam e me abençoam. Essa era uma
teoria que a gente inventava nas tardes. Hoje eu estou quando infante.
Eu resolvi voltar quando infante por um gosto de voltar. Como quem
aprecia de ir às origens de uma coisa ou de um ser. Então agora eu estou
quando infante. Agora nossos irmãos, nosso pai, nossa mãe e todos
moramos no rancho de palha perto de uma aguada. O rancho não tinha
frente nem fundo. O mato chegava perto, quase roçava nas palhas. A mãe
cozinhava, lavava e costurava para nós."(...)
- Manoel de Barros, em "Memórias inventadas: a segunda infância".
A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
- Manoel de Barros, em "Retrato do Artista Quando Coisa", Editora Record, 1998."O Tempo só anda de ida.
A gente nasce, cresce, envelhece e morre.
Pra não morrer
É só amarrar o Tempo no Poste.
Eis a ciência da poesia:
Amarrar o Tempo no Poste!"
- Manoel de Barros, em entrevista a Bosco Martins, 2007.
VII - No descomeço era o verbo
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá, onde a criança diz:
eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
Funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta,
que é a voz
De fazer nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio.
-
Manoel de Barros, no poema "Uma didática da invenção - 'VII'", do "O
livro das ignorãças". 2ª ed., Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira,1994, p. 17.
“Para entender nós temos dois caminhos:
[o da sensibilidade que é o entendimento
do corpo;
e o da inteligência que é o entendimento
do espírito.
Eu escrevo com o corpo.
Poesia não é para compreender,
[mas para incorporar.
Entender é parede; procure ser árvore.”
-
Manoel de Barros, do livro "Gramática expositiva do chão: poesia quase
toda". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990, p. 212.[o da sensibilidade que é o entendimento
do corpo;
e o da inteligência que é o entendimento
do espírito.
Eu escrevo com o corpo.
Poesia não é para compreender,
[mas para incorporar.
Entender é parede; procure ser árvore.”
REPETIÇÃO DE MANOEL DE BARROS
toda vez que eu encontro uma pessoa
ela me entrega às suas lágrimas
não sei se isso é uma repetição de mim ou das lágrimas
não sei se isso é uma repetição das pessoas ou de mim
estarei incluída nas lágrimas ou nas pessoas?
toda vez que eu encontro um amor
ele me entrega às suas incertezas
não sei se isso é uma repetição de mim ou das incertezas
não sei se isso é uma repetição do amor ou de mim
estarei incluída no amor ou nas incertezas?
toda vez que eu me encontro
eu me entrego às minhas paixões
não sei se isso é uma repetição de mim ou das paixões
não sei se isso é uma repetição minha ou de mim
estarei incluída em mim ou nas paixões?
parece que a paixão é apenas uma extensão de mim
parece que a incerteza só é uma divulgação de mim
parece que a lágrima é minha constituição
penso que dentro da minha casca não tem pessoa nem amor
tem um silêncio extremo e visões profundas
eu gosto da doença existente nas palavras
Kátia Kirino
ela me entrega às suas lágrimas
não sei se isso é uma repetição de mim ou das lágrimas
não sei se isso é uma repetição das pessoas ou de mim
estarei incluída nas lágrimas ou nas pessoas?
toda vez que eu encontro um amor
ele me entrega às suas incertezas
não sei se isso é uma repetição de mim ou das incertezas
não sei se isso é uma repetição do amor ou de mim
estarei incluída no amor ou nas incertezas?
toda vez que eu me encontro
eu me entrego às minhas paixões
não sei se isso é uma repetição de mim ou das paixões
não sei se isso é uma repetição minha ou de mim
estarei incluída em mim ou nas paixões?
parece que a paixão é apenas uma extensão de mim
parece que a incerteza só é uma divulgação de mim
parece que a lágrima é minha constituição
penso que dentro da minha casca não tem pessoa nem amor
tem um silêncio extremo e visões profundas
eu gosto da doença existente nas palavras
Kátia Kirino
gata alheia
no conto de fadas da minha vida
ao invés dos sapatinhos de cristal
eu perdi as calcinhas
e até hoje só encontrei
o meu príncipe desencantado
ao invés dos sapatinhos de cristal
eu perdi as calcinhas
e até hoje só encontrei
o meu príncipe desencantado
terça-feira, 8 de abril de 2014
É SÓ PENSAR QUE VEM
misture folhas de morango com sementes de girassol
ebuli em Água Mineral Riacho com um pé de canela
deixe ao luar cheio com uma pedra de quartzo rosa
às 00 horas 00 minutos dispa-se das suas roupas
banhe-se com a água do pescoço para baixo
enquanto pronuncia o nome da pessoa amada
profetiza sua união com o mantra do coração
pede para Santo Antônio casamenteiro interceder
pendure um cupido na parede em cima da cama
tenha um momento de coragem insana
surpreenda o seu amor, cubra-o de paixão
é só pensar que vem
(Para Juliane Lopes)
ebuli em Água Mineral Riacho com um pé de canela
deixe ao luar cheio com uma pedra de quartzo rosa
às 00 horas 00 minutos dispa-se das suas roupas
banhe-se com a água do pescoço para baixo
enquanto pronuncia o nome da pessoa amada
profetiza sua união com o mantra do coração
pede para Santo Antônio casamenteiro interceder
pendure um cupido na parede em cima da cama
tenha um momento de coragem insana
surpreenda o seu amor, cubra-o de paixão
é só pensar que vem
(Para Juliane Lopes)
domingo, 6 de abril de 2014
SOBRE SÁBADO PASSADO
meu misto quente com tomate e orégano
combina com o seu livro do Bukowski
saudade da poesia dos encontros virtuais
lá em BH ou qualquer lugar além de lá
estamos juntos, estranhos a tudo
estranhos a nós a todo mundo
eu, sofrida você, regando flores
combina com o seu livro do Bukowski
saudade da poesia dos encontros virtuais
lá em BH ou qualquer lugar além de lá
estamos juntos, estranhos a tudo
estranhos a nós a todo mundo
eu, sofrida você, regando flores
TREINAMENTO ANTROPOFÁGICO DA ESCUTA
MANUSEIO SEM MANUAL DE INSTRUÇÃO
ela consegue pegar o amor
tocar a sua superfície
áspera
então o ignora
ela esquece, renega
numa caixa dentro
da última gaveta do armário
tanto amor dando sopa
quem sabe ela quer colecionar?
ela consegue sentir o gosto
degusta a sua fruta
doce
então o acaricia
admira, o mesmo amor
numa caixa fora
no seu devido lugar
em cima do móvel
da sala de estar
tanto amor dando bandeira
ninguém sabe onde vai dar
Kátia Kirino
tocar a sua superfície
áspera
então o ignora
ela esquece, renega
numa caixa dentro
da última gaveta do armário
tanto amor dando sopa
quem sabe ela quer colecionar?
ela consegue sentir o gosto
degusta a sua fruta
doce
então o acaricia
admira, o mesmo amor
numa caixa fora
no seu devido lugar
em cima do móvel
da sala de estar
tanto amor dando bandeira
ninguém sabe onde vai dar
Kátia Kirino
Ilustração: Federico Infante |
sábado, 5 de abril de 2014
GRATIDÃO
eu agradeço
a sua falta de apreço
seu vacilo foi minha salvação
você tinha razão
acabou a diversão
eu agradeço
por me dar olhos
me dar chifres e patadas
dar asas partidas
voadora rasteira soco
eu agradeço
por me deixar sofrer
me desfazer inteira
tal nasce uma flor
e bota amor onde não há
KÁTIA KIRINO
a sua falta de apreço
seu vacilo foi minha salvação
você tinha razão
acabou a diversão
eu agradeço
por me dar olhos
me dar chifres e patadas
dar asas partidas
voadora rasteira soco
eu agradeço
por me deixar sofrer
me desfazer inteira
tal nasce uma flor
e bota amor onde não há
KÁTIA KIRINO
domingo, 30 de março de 2014
VOCÊ ME FAZ SENTIR
você me faz sentir que
estou voltando a agir certo
eu nunca pensei que poderia reacontecer
mas você me faz sentir que
nosso amor pode ser possível
eu poderia apenas viver por viver
mas você me faz sentir que
tudo o que eu quero é você
agora eu sei que é amor
pois você me faz sentir
menos sozinha
estou voltando a agir certo
eu nunca pensei que poderia reacontecer
mas você me faz sentir que
nosso amor pode ser possível
eu poderia apenas viver por viver
mas você me faz sentir que
tudo o que eu quero é você
agora eu sei que é amor
pois você me faz sentir
menos sozinha
COISAS BELAS E SUJAS
hoje estou romântica
pensando em alguém que vale a pena
posso dizer: me apaixonei
espero esta oportunidade sem saber
eu nunca tive alguém como você
o melhor de mim foi seu
quando me lembro do que passou
eu vejo coisas belas
hoje estou sem você
não tive como te ter
posso dizer que eu errei
somente agora eu entendo
você disse: é tarde
agora já tem outro alguém
eu pensava que era esperta
quando me lembro do que passou
eu vejo coisas sujas
pensando em alguém que vale a pena
posso dizer: me apaixonei
espero esta oportunidade sem saber
eu nunca tive alguém como você
o melhor de mim foi seu
quando me lembro do que passou
eu vejo coisas belas
hoje estou sem você
não tive como te ter
posso dizer que eu errei
somente agora eu entendo
você disse: é tarde
agora já tem outro alguém
eu pensava que era esperta
quando me lembro do que passou
eu vejo coisas sujas
sexta-feira, 28 de março de 2014
VOLTA
roda viva
rola e lá volto eu
a te encontrar
passaram dias, anos
passaram amores
e lá volta você
e agora?
meia volta ou volta inteira
rola e lá volto eu
a te encontrar
passaram dias, anos
passaram amores
e lá volta você
e agora?
meia volta ou volta inteira
MINHA CASA
minha casa
um museu de memórias falhas
um baú de recentes antiguidades
minha casa
afundada em min(as)
varanda vazia de flores
minha casa
uma estrada para meu infinito
morada da intuitiva criação
templo da imaginação
parede para pintar com cores
de palha, pedra e prata
chão de imagens
acústica de músicas
descanso e paz
um museu de memórias falhas
um baú de recentes antiguidades
minha casa
afundada em min(as)
varanda vazia de flores
minha casa
uma estrada para meu infinito
morada da intuitiva criação
templo da imaginação
parede para pintar com cores
de palha, pedra e prata
chão de imagens
acústica de músicas
descanso e paz
DOS ESTATUTOS ANARQUISTAS DA NOITE
Dos estatutos anarquistas da noite:
(Ou como ser louco sem incomodar outro louco)
I - Todo doidão será consciente da sua própria doideira.
II - Ou a malucada racha ou cada um paga a sua cerveja.
III - Nesses momentos é melhor nenhum maluco chegar mangueando.
IV - Cada doido segura a sua própria onda.
V - Caso a onda extrapole o maluco será conduzido ao seu devido lugar. Lugar esse que pode ser em Cacha Prego.
VI - Ideias e opiniões sempre serão discutidas e curtidas em leveduras fermentadas e em ambientes esfumaçados.
VII - O louco deverá amar o outro louco acima de todas as doideiras.
VIII - Em caso de paixão avassaladora deverá o maluco se entregar.
IX - São permitidos barbas por fazer, cabelos encaracolados, roupas extravagantes, narizes de palhaço, instrumentos musicais, bicicletas desgovernadas e cadernos de poesia.
(Construção individual de observações coletivas, com Fátima Porto)
quinta-feira, 27 de março de 2014
SEUS OLHOS DE REPOLHO
tão longes do meu olhar
teus olhos de repolho
me vem observar
foi aquela conversa
em que eu falei sem poder te olhar
pois se visse ia lhe beijar
e seus ais finais
ficaram a me dizer
que eu quero ver você
teus olhos de repolho
me vem observar
foi aquela conversa
em que eu falei sem poder te olhar
pois se visse ia lhe beijar
e seus ais finais
ficaram a me dizer
que eu quero ver você
quarta-feira, 26 de março de 2014
DIÁRIO BORDÔ
Primeira Lua de outono - 2014 / Kátia Kirino |
Itamambuca / Ubatuba - SP Kátia Kirino |
o Tubarão do filme habita a memória
no momento de mergulhar longe do balneário
desta vez sem bilhetinho em garrafa
apenas a pergunta faria: seria ou não seria?
sereia submersa e suas cantigas em lua cheia
água que resplandece a noite quente
sereia ou não seria? a novidade
o Tubarão assola os pensamentos da menina
desde a tenra idade vivia embaixo da cama
nas noites em que a cama flutuava no mar
mas eram golfinhos que apareciam de dia
e o barco se movia no balanço das ondas
trilhas, visões de areia e amendoeiras
eu não temo baleias nem balanços
o pescador não tem medo?
eu vim das águas doces para desvendar segredos
o verão se vai e os ventos mudam
encontro, desencontro e estrondo surdo
fica pra trás da Serra do Mar ao norte
em despedidas e lágrimas disfarçadas
se vai ou se fica o sonho de voltar
"A estrela que estava escondida
Sentiu-se atraída depois então
apareceu
Mas ficou tão enternecida
Indagou a si mesma
a estrela afinal será ela ou sou eu"
Licença poética:
O MAR SERENOU - Candeia
Citação: A novidade - Herbert Vianna
terça-feira, 11 de março de 2014
domingo, 9 de março de 2014
sábado, 1 de março de 2014
CONSELHEIRO DOS LIMIARES
não se aprisione no belo
ande na contramão dos modelos
e vai encontrar o encanto
no dissímil feio
não tema a derrota
é o destino de quem guerreia
e continua vivo para
pedir trégua ao inimigo
não se detenha as verdades
elas estão submersas no tempo
transpassando as farsas
de mocinho e bandido
não se deleite com versos falidos
o corsário da imaginação
já roubou-lhe a razão
atenha-se ao essencial
não se importe com o que há de vir
deixa esta porra toda explodir
o roteiro vem escrito
pela metade, improvise
ande na contramão dos modelos
e vai encontrar o encanto
no dissímil feio
não tema a derrota
é o destino de quem guerreia
e continua vivo para
pedir trégua ao inimigo
não se detenha as verdades
elas estão submersas no tempo
transpassando as farsas
de mocinho e bandido
não se deleite com versos falidos
o corsário da imaginação
já roubou-lhe a razão
atenha-se ao essencial
não se importe com o que há de vir
deixa esta porra toda explodir
o roteiro vem escrito
pela metade, improvise
NEGATIVando
minha poesia não quer querer
não quer ser bela, não quer ser certa
minha poesia não quer caber
não quer ser prosa, não quer adjetivos
minha poesia só quer ser um peixe
não quer ser bela, não quer ser certa
minha poesia não quer caber
não quer ser prosa, não quer adjetivos
minha poesia só quer ser um peixe
AMOR ANTIGO
esse amor de gerações
vai contra o tempo
ao encontro das distâncias
esse amor nos torna opostos
e cada vez mais próximos
do fim, este limiar da vida
esse amor de anos atrás
guardado no baú de lembranças
empoeiradas e juvenis
esse amor antigo ainda me leva
a cruzar o chão da América
e reinventar a nossa união
vai contra o tempo
ao encontro das distâncias
esse amor nos torna opostos
e cada vez mais próximos
do fim, este limiar da vida
esse amor de anos atrás
guardado no baú de lembranças
empoeiradas e juvenis
esse amor antigo ainda me leva
a cruzar o chão da América
e reinventar a nossa união
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
A TEMPO
já são onze horas da noite
descarto os vinte e cinco minutos
que agora são vinte e seis
(um minuto se passou)
o tempo sequer me deixa
tem sempre hora marcada
para durar o tempo que dura
(nem um minuto a mais)
então faça, seja, deseje
à tempo de ainda ser
descarto os vinte e cinco minutos
que agora são vinte e seis
(um minuto se passou)
o tempo sequer me deixa
tem sempre hora marcada
para durar o tempo que dura
(nem um minuto a mais)
então faça, seja, deseje
à tempo de ainda ser
DESEJO
o desejo que era fogo
virou carvão
cinzas de quarta-feira
gritei socorro!
apelei para o consolo
o desejo que ardia
virou o balde de água fria.
virou carvão
cinzas de quarta-feira
gritei socorro!
apelei para o consolo
o desejo que ardia
virou o balde de água fria.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
INSPIRADOR
essa dor não me sai da cabeça
lateja, pulsa e chacoalha
enquanto o canto fica preso na garganta
a gargalhada farfalha pelos cantos da boca
de dor e de canto eu não entendo
mas acho séria a minha risada
pode ser que um tylenol
me dê um alívio instantâneo
mas é genérico, minha senhora
não é miojo não
há mais poesia na dor
do que na risada
será que é porque ela rima com inspirador?
lateja, pulsa e chacoalha
enquanto o canto fica preso na garganta
a gargalhada farfalha pelos cantos da boca
de dor e de canto eu não entendo
mas acho séria a minha risada
pode ser que um tylenol
me dê um alívio instantâneo
mas é genérico, minha senhora
não é miojo não
há mais poesia na dor
do que na risada
será que é porque ela rima com inspirador?
EU, FRIDA
A partir de hoje os textos do "Eu, Frida" serão postados no seu próprio blog, criado para esta finalidade:
http://eufrida.blogspot.com.br/
http://eufrida.blogspot.com.br/
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
FRÁGIL
dois fortes abraços
um da Cris, bela
que um dia me deu o seu doce e suculento amor
outro da Cida, guerra
que sobreviveu com o filho definhando em seus braços
dois fortes abraços
na minha frágil lembrança
um da Cris, bela
que um dia me deu o seu doce e suculento amor
outro da Cida, guerra
que sobreviveu com o filho definhando em seus braços
dois fortes abraços
na minha frágil lembrança
PÁSSARO
quero ver o que vês
voar no ar que respiras
me libertar desta atmosfera onde
não sinto os seus passos
quero o vento que lhe sopra a face
quero o beijo que nunca
foi-me dado pela distância
que hoje nos une
vou abrir minhas asas
e voar com você
Deus, seria impossível?
só mais uma chance de ser
livre, deixe-me ser celeste
voar...
(improviso sobre a canção Fly, de Jason Upton)
voar no ar que respiras
me libertar desta atmosfera onde
não sinto os seus passos
quero o vento que lhe sopra a face
quero o beijo que nunca
foi-me dado pela distância
que hoje nos une
vou abrir minhas asas
e voar com você
Deus, seria impossível?
só mais uma chance de ser
livre, deixe-me ser celeste
voar...
(improviso sobre a canção Fly, de Jason Upton)
domingo, 23 de fevereiro de 2014
CARNAVAL
atrás do bloco dos crustáceos
eu vou bamba e com os pés no samba
não me canso nem descanso
vou seguir a banda até acabar
vestir minha fantasia de improviso
espantar a tristeza do olhar
rasgue a serpentina
tire a sua máscara
nem existe o amor
bem vindo a festa da ilusão
eu vou bamba e com os pés no samba
não me canso nem descanso
vou seguir a banda até acabar
vestir minha fantasia de improviso
espantar a tristeza do olhar
rasgue a serpentina
tire a sua máscara
nem existe o amor
bem vindo a festa da ilusão
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
jazzigo
e quando eu morrer, virar semente da terra,
que escrevam no meu jazigo:
"aqui jazz uma flor"
que escrevam no meu jazigo:
"aqui jazz uma flor"
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
INDO
não me calo mais
quando silencio, estou construindo o que penso
ponderando as divergências
emendando as remendas
ouvindo
ou indo
sábado, 8 de fevereiro de 2014
A MUDANÇA DE JAGGER
_ O amor não foi suficiente.
Ele me disse esta frase depois que perguntei o real motivo dele ir embora e deixar para trás todos os nossos sonhos de uma vida juntos. Ao ouvi-la, eu senti um frio dentro de mim. Não disse mais nada. Ele pegou o gato, eu dei-lhe a sacola de ração e entrei no banheiro, fiquei esperando ele ir embora. Quando ouvi o carro dar a partida eu fui fechar o portão.
O meu vizinho, uma criança de seis anos, perguntou:
_ Kátia, onde o Jagger foi?
Jagger é o gato. Eu segurei o choro na garganta e respondi:
_ Dudu, o Jagger agora foi morar em outra casa, junto com o dono dele.
Cristina, mãe da criança, e outras vizinhas que estavam na rua naquele momento, perceberam o embaraço da situação.
_ Dudu, vem aqui, chamou a mãe. Acho que eu estava sorrindo para ele, então dei tchau e entrei rápido para dentro de casa.
Ali mesmo na sala eu parei. Olhei ao redor, tudo parecia vazio. Conseguia ouvir o eco daquelas palavras no vazio da casa: o amor não foi suficiente... o amor não foi suficiente...
O ódio cresceu e veio até minha pele, que pegava fogo. Eu tive vontade de matá-lo a punhaladas. Até uma semana atrás, tudo estava bem entre nós, não tinha qualquer indício de que o amor era insuficiente ao ponto de rompermos nossa relação. Em mim o amor ainda rugia acordado e raivoso. Me senti uma completa idiota. Como eu pude me enganar tanto?
Eu não merecia aquilo. Fui uma mulher fiel, companheira e boa amante. Uma revolta me invadiu sem pedir licença, sem ao menos eu conseguir ponderar. Senti meus batimentos cardíacos acelerarem, comecei a suar frio, minha pressão caiu, parecia que eu ia desmaiar. Me sentei no chão do quintal com uma pitada de sal na boca. E agora, o que eu faço? Não sabia o que fazer, como seguir adiante, estava totalmente perdida. Pensamentos negativos invadiram minha cabeça, enquanto eu permanecia ali, ruminando e destilando meu descontentamento.
Devido a minha coluna operada, ainda não podia fazer várias coisas. Sete meses se passaram desde a minha cirurgia e eu ainda não me sentia bem. Ainda dependia da ajuda das pessoas. Tive medo de não conseguir viver sozinha, tinha desaprendido a solidão. Ele praticamente foi morar em minha casa para cuidar de mim. Dirigia o meu carro, me levava e me buscava na fisioterapia, cuidava dos gatos, pegava tudo que era pesado e tudo que eu pedia quando eu estava de repouso, esquentava a bolsa térmica e colocava nas minhas costas, dormia ao meu lado todas as noites, quando eu mais sentia dores lombares, enfim, foi um verdadeiro amigo e companheiro.
Perdi a vontade de comer, perdi o sono. Não aceitava a decisão dele, achava injusta. Mas deixei deste jeito. Como ficar com alguém que deixou de me amar? Como ficar suplicando seus carinhos, sua atenção? Meu orgulho não permite tal disparate. Então abri os caminhos, deixei-o livre como passarinho. Sumi da sua vida. Desconectei nossos laços totalmente. De uma hora para outra, passamos a ser estranhos. Tão estranhos que eu realmente mudei para que ele não mais me reconheça.
Esta nova pessoa ainda ama. Mas sabe que este não é o amor de sua vida. Onde o amor não é suficiente, não há amor de verdade. Não existe amor insuficiente: ou se ama, ou não se ama. Esta nova pessoa ainda ama, mas ama mais a si do que ao outro. Esta nova pessoa descobriu que pode sim estar sozinha, mesmo com todas as limitações impostas pela vida.
E Ganesha, a gata que ficou comigo, passou um mês sem fome e sem vontade de brincar, como eu. Mesmo sendo ameaçada constantemente por Jagger, que era o gato alfa, ela sentiu extremamente sua falta. Mas hoje Ganesha reina absoluta em nossa casa, não precisa mais disputar o seu espaço com nenhum outro felino. Vamos muito bem, obrigada.
Ele me disse esta frase depois que perguntei o real motivo dele ir embora e deixar para trás todos os nossos sonhos de uma vida juntos. Ao ouvi-la, eu senti um frio dentro de mim. Não disse mais nada. Ele pegou o gato, eu dei-lhe a sacola de ração e entrei no banheiro, fiquei esperando ele ir embora. Quando ouvi o carro dar a partida eu fui fechar o portão.
O meu vizinho, uma criança de seis anos, perguntou:
_ Kátia, onde o Jagger foi?
Jagger é o gato. Eu segurei o choro na garganta e respondi:
_ Dudu, o Jagger agora foi morar em outra casa, junto com o dono dele.
Cristina, mãe da criança, e outras vizinhas que estavam na rua naquele momento, perceberam o embaraço da situação.
_ Dudu, vem aqui, chamou a mãe. Acho que eu estava sorrindo para ele, então dei tchau e entrei rápido para dentro de casa.
Ali mesmo na sala eu parei. Olhei ao redor, tudo parecia vazio. Conseguia ouvir o eco daquelas palavras no vazio da casa: o amor não foi suficiente... o amor não foi suficiente...
O ódio cresceu e veio até minha pele, que pegava fogo. Eu tive vontade de matá-lo a punhaladas. Até uma semana atrás, tudo estava bem entre nós, não tinha qualquer indício de que o amor era insuficiente ao ponto de rompermos nossa relação. Em mim o amor ainda rugia acordado e raivoso. Me senti uma completa idiota. Como eu pude me enganar tanto?
Eu não merecia aquilo. Fui uma mulher fiel, companheira e boa amante. Uma revolta me invadiu sem pedir licença, sem ao menos eu conseguir ponderar. Senti meus batimentos cardíacos acelerarem, comecei a suar frio, minha pressão caiu, parecia que eu ia desmaiar. Me sentei no chão do quintal com uma pitada de sal na boca. E agora, o que eu faço? Não sabia o que fazer, como seguir adiante, estava totalmente perdida. Pensamentos negativos invadiram minha cabeça, enquanto eu permanecia ali, ruminando e destilando meu descontentamento.
Devido a minha coluna operada, ainda não podia fazer várias coisas. Sete meses se passaram desde a minha cirurgia e eu ainda não me sentia bem. Ainda dependia da ajuda das pessoas. Tive medo de não conseguir viver sozinha, tinha desaprendido a solidão. Ele praticamente foi morar em minha casa para cuidar de mim. Dirigia o meu carro, me levava e me buscava na fisioterapia, cuidava dos gatos, pegava tudo que era pesado e tudo que eu pedia quando eu estava de repouso, esquentava a bolsa térmica e colocava nas minhas costas, dormia ao meu lado todas as noites, quando eu mais sentia dores lombares, enfim, foi um verdadeiro amigo e companheiro.
Perdi a vontade de comer, perdi o sono. Não aceitava a decisão dele, achava injusta. Mas deixei deste jeito. Como ficar com alguém que deixou de me amar? Como ficar suplicando seus carinhos, sua atenção? Meu orgulho não permite tal disparate. Então abri os caminhos, deixei-o livre como passarinho. Sumi da sua vida. Desconectei nossos laços totalmente. De uma hora para outra, passamos a ser estranhos. Tão estranhos que eu realmente mudei para que ele não mais me reconheça.
Esta nova pessoa ainda ama. Mas sabe que este não é o amor de sua vida. Onde o amor não é suficiente, não há amor de verdade. Não existe amor insuficiente: ou se ama, ou não se ama. Esta nova pessoa ainda ama, mas ama mais a si do que ao outro. Esta nova pessoa descobriu que pode sim estar sozinha, mesmo com todas as limitações impostas pela vida.
E Ganesha, a gata que ficou comigo, passou um mês sem fome e sem vontade de brincar, como eu. Mesmo sendo ameaçada constantemente por Jagger, que era o gato alfa, ela sentiu extremamente sua falta. Mas hoje Ganesha reina absoluta em nossa casa, não precisa mais disputar o seu espaço com nenhum outro felino. Vamos muito bem, obrigada.
"Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão
Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar
Mas meu último desejo
Você não pode negar
Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação"
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação"
Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim"
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim"
(Último Desejo - Noel Rosa)
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
ULTRAPASSADO
como? se te abortei
lentamente por seixos
um a um
e deles eu ergui
uma parede
que não transpõe
nosso holocausto
como? se trasbordei
o limite da vida
como água corrente
descendo violentamente
e construí a ponte
que nos une e separa
lentamente por seixos
um a um
e deles eu ergui
uma parede
que não transpõe
nosso holocausto
como? se trasbordei
o limite da vida
como água corrente
descendo violentamente
e construí a ponte
que nos une e separa
POÉTICA SOLIDÃO
pra me tirar da solidão
precisa ser muito bom
precisa acabar com a dor
precisa me abrir as pétalas
para acabar com a solidão
precisa extinguir a saudade
precisa ter alguém que cole
precisa ser quem ampare
para acabar com a solidão
precisa muita solitude
precisa distância e prezo
precisa ser com paixão
precisa ser muito bom
precisa acabar com a dor
precisa me abrir as pétalas
para acabar com a solidão
precisa extinguir a saudade
precisa ter alguém que cole
precisa ser quem ampare
para acabar com a solidão
precisa muita solitude
precisa distância e prezo
precisa ser com paixão
LÍQUIDO QUERER
eu penso no que
sinto e o que
sinto é querer
ainda que seja
líquido
o que quero é
você
sinto e o que
sinto é querer
ainda que seja
líquido
o que quero é
você
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