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sábado, 1 de maio de 2010

EQUILÍBRIO DELICADO


Esta é uma reflexão filosófica.
Quem nunca sentiu uma angústia irremediável, aquele desconforto, um desespero de sei lá o quê?
Já passei por três tipos de desespero na vida. Sou deveras existencialista, e, como tal, preciso sofrer bastante para entender certas coisas. Vamos aos fatos.
Primeiro desespero: sentir-me sem eu mesma. Sabe aquela sensação de perder-se de si próprio? Isso aconteceu em certo momento do meu segundo casamento, principalmente quando meu ex marido me disse a seguinte frase no meio de uma discussão:
_ Nós dois somos um só, não existe eu e você.
Qualquer mulher poderia achar muito romântico, eu achei aquilo estranho. Então eu não sou eu, sou o meu somatório com outro que não eu mesma? Então ele também não é ele? Eu não gosto de carne mal passada e muito menos tenho pau...
Não consigo ver o amor dessa forma, exceto no momento do orgasmo. Momento este sublime, esplêndido e valioso. Individualidade vale para tudo, inclusive para o casamento. Egoísmo? Só quero meu eu de volta.
O segundo desespero é quando meu eu não quer mais ser ele próprio. Um dia desses, saí de casa para o trabalho e bati o carro recém comprado em suaves sessentas prestações na coluna do estacionamento. Amassou, arranhou e me deu um baita prejuízo. Chegando ao trabalho, bronca do chefe, pagamento atrasado e sem internet o dia inteiro. Volto para casa e pasme, cortaram minha luz. Ligo para a amiga e o celular está fora de área. Saio para comprar velas e encontro o chato do síndico que reclamou do barulho no meu apartamento. Chega!
Só faltou tocar o telefone e ser meu ex marido no outro lado da linha pedindo dinheiro emprestado. Isso aconteceu no outro dia de manhã, mas não vem ao caso.
O terceiro desespero é quando meu eu quer ser ele próprio de qualquer maneira e, em determinados momentos, não consegue ser. Sabe aquela sensação de perder o espírito quando um conhecido daquele tipo malandro de botequim te implora um voto para vereador e você diz que vai votar só para encerrar a conversa que já dura uma hora. De verdade, eu queria dizer que nunca votaria nele porque ele é um idiota que não sabe a diferença entre um político e um bêbado chato.
Depois de tanto desespero, resolvi me aproximar de Deus. Afinal, o desespero é viver a morte diariamente. E a fé em algo superior nos conforta a alma e nos faz crer que tudo tem um propósito maior.
Vivemos desesperados e nem nos damos conta disso. O eu sempre quer aquilo que não tem e quer ser aquilo que não é. Diariamente. O desespero é um sofrimento do espírito. Morrer sem cessar, morrer sem morrer e morrer a morte. Desse desespero que ninguém escapa, mesmo que não o saiba conscientemente. Isso fica incomodando, pois da morte todo mundo tem medo.
Preciso mesmo me aproximar de Deus e saber o que ele pretende para mim. Um terceiro marido? Outro emprego? Um bom psicólogo?
Se pudesse pedir, pediria um pouco menos de mim, um pouco mais de mim e... claro, muita fé. Fé para aguentar o rojão sem cair no desespero e para alcançar o equilíbrio entre os meus tantos eus.


Kátia Quirino
Crônicas Poéticas e Hipotéticas

Um comentário:

  1. Nossa Katiaaaaaaaaaaaaa, falou de mim, e do meu eu, ou é do seu mesmo ???!!!!
    Amiga, posso te chamar assim ??? depois e ler isso, preciso.
    Desculpa , mas ainda estou sentindo e , ano tenho agora o que falar.....
    Elimeire

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