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quarta-feira, 7 de março de 2012

ELA

Começou a trabalhar cedo, não ganhava nem um salário mínimo. O pai aposentou por invalidez, a família começou a passar apertado. Mesmo assim juntou durante dezenove anos o dinheirinho para comprar um carro usado. Mesmo assim o pai completou o dinheiro que faltava. Fez três faculdades, não aguentava mais andar a pé, ou pagava a passagem de ônibus, ou juntava outro dinheirinho para a mensalidade. É preta, mas não solicitou vaga na cota para o vestibular. Diz que já ouviu muito "Só está fazendo faculdade por causa da cota". Não é porque tem a pele negra que vai ter menos capacidade para as coisas. "Só não consegue quem não quer", diz. Ainda não tem o carro novo, continua juntando o dinheiro, mas sente-se vitoriosa! Não tem vergonha nenhuma em dizer que usou muita roupa dos outros. A conhecida da mãe tinha um filho que regulava a idade e usava as roupas dele, sapato, calça, ela e as irmãs. Não foi por isso que deixou de ser ela. Ninguém morre por causa disso, a família toda fez faculdade, menos um irmão porque não quis. Sua primeira casa foi uma garagem, que arrumou e viveu como uma princesa. Era pequena, só um cômodo, mas ali cabia seus sonhos, seus sentimentos, sua vida. Teve que mudar pois não cabiam as coisas!

Ouvi hoje esta história contada por uma mulher negra, por volta dos seus cinquenta anos, que hoje é Secretária Municipal em uma Prefeitura de um município do interior do Estado do Rio de Janeiro. Sua trajetória de superação, força, alegria, determinação e vontade de viver me emocionou muito e me levou a pensar nos meus próprios desafios, nas minhas limitações e em tudo que eu ainda quero conquistar.

Por isso, dedico o dia de hoje, 08 de março, Dia Internacional da Mulher, a esta mulher simples, bela e guerreira, e espero vê-la em breve no seu carro novo!


Parabéns a todas as mulheres do mundo.

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