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quinta-feira, 10 de julho de 2014

HAIKKAIS

HAIKKAIS

Kátia Kirino

O ideograma KAWA - Rio , fluxo de água corrente, representa (na vertical) o esquema do haikai. 
"O sangue dos três versos escorrendo na parede da página..." Paulo Leminski 



HAIKKAI

agora a casa caiu
e o haikai passou por mim
amor à primeira rima



NÃO HESITE EM DIZER

bendita a pala
vra bem dita a palavra
ela não hesita



CERTEZA

se eu fosse talvez
eu não estaria ainda viva
no fundo do poço



TATOO

o poema na pele
arrepia os pelos do corpo
pelos versos pelados



PRINCESA LOUCA

as calcinhas perdidas
um conto de fadas fatídico
o príncipe desencantado



CANTIGAS

I
haicai balão hai
cai cai balão hai cai hai
cai na minha mão


CANTIGAS

II

não haicai não
haicai não haicai aqui na
minha mão balão


CANTIGAS

III
vou lá não vou
lá não haicai na rua do

sabão cai não




AO POETA

eu fito um poema
o poema fita comigo
ficamos juntos



JORGE SENTOU

Jorge Guerreiro
guardo o teu cavalo
a festa começou



FRIO
vento soprou frio
veste o agasalho menina
me deu calafrio


HOMEM UNIversus

era um homem
demasiado humano 
sem sapiens(cia)


PROCURA INFINITA

estou procurando
estou procurando estou
procurando estou


AUSÊNCIA

alegria difícil
dormir sem você
e acordar só eu


VASO QUEBRADO

flores no balcão
flores despetaladas
flores no chão


REFERÊNCIAS

I
para Leminski
toda poesia de Paulo
declama haicai

II
dancei para ti
um samba meio jazz
que fala de Noel


III
ARGUMENTO MIA COUTO

palavras nos fazem ser
palavras fazem-no deixar de ser
palavras para sobreviver

IV
BASHÕ

o momento interior
é a hora santa da catarse
da poesia perfeita


SOBRE O TEMPO

tempo que passa
incólume e urgente
nos deixa marcas


TEMPO O SOBRE

tempo que passa
urgente e incólume
nos leva saudade


TOCANTE

toca fundo a minha alma
mas o corpo geme e suplica
sua impressão digital


PÁRA RAIOS

não ser nunca o céu
para as suas tempestades
ser (a) sua calmaria


CAUSO

era noite de à gosto
sonhei com prima Vera
acordei com Dolores


MEIA ESTAÇÃO

em meados de maio
prenúncio do inverno
no meu coração


CAOSMOLOGIA

será possível fazer?
anular o impassível tempo
adormecer a morte?


POESIA INÚTIL DE P.L.

fazia poesia vazia
tudo vazava sem porquê
havia muito querer



LONGÍNQUA LUZ

quando morrem estrelas
nascem imagens do passado
nas janelas do sobrado



INTRANSIGENTE

não sabe o intolerante
que ele é aquilo que não tolera
e isso é intolerável



DESILUSÃO

indiferente amor
indiferente sono acordado
indiferente dor



DISTÂNCIAS

um vácuo existe
entre eu e eu contigo
um vácuo divino



PARTIDA

as únicas palavras
que ficam para todo o sempre
são as que dizem adeus














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