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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

QUERIDO DIÁRIO

Eu vinha tão distraída de carro ouvindo o MP3 com a seleção de músicas para repertório que eu fiz com a Alessandra que me esqueci de parar em algum lugar para comer. Agora estou com fome e lembrando que quando selecionamos estas músicas, era para cantar em barezinhos de Resende. Pensamos no Teco para tocar violão, ele sempre nos deixava dar umas canjas quando saíamos para vê-lo cantar. Mas tantos anos se passaram, Teco morreu de infarto do miocárdio, Alessandra mudou-se para a Noruega e as músicas que ouço hoje são outras. Achei um mix de castanhas na geladeira e uma maça embrulhada no papel alumínio que me esqueci de comer no trabalho. Foi minha refeição.

Saí hoje para ir a uma consulta com a minha ginecologista. Preventivo perfeito! Mas ela me pediu mil exames pois já completei 38 anos, posso fazer minha primeira mamografia, exame de sangue, urina e tal, tudo para detectar o porque da minha TPM e da infecção urinária, que é recorrente desde que operei a coluna e tive rabdomiólise, o que prejudicou os meus rins. Fora isso, parece que estou com carência de vitaminas, por isso a TPM tão prostrante e inchada. Pedi a ela ainda o teste HIV, que faço todo ano. Mas eu perdi a consulta com o clínico geral, estou ouvindo uns barulhos chatos dentro da cabeça, um zumbido constante que me deixa louca. Agora só em janeiro, esperar passar natal e reveillon.

Estou assim, meio dodói mas minha cabeça está voando. Tem dez dias que terminei com meu namorado. Aliás, ele terminou comigo. Tínhamos planos de viver juntos, ter filhos e sermos felizes para sempre. Coisa de casal careta, coisa que nós não somos e nada disso deu certo. Foi uma sucessão de sexo, drogas, rock e amor. Fiquei despedaçada com a ideia do rompimento, mas juntei os caquinhos tão depressa que nem deixei vestígios da quebradeira. Mas ainda não sei o que fazer com meu coração, esse órgão taquicardíaco que está mais fibrilado que coração de enfartado. Os ventrículos batem tão rapidamente que eu me sufoco sempre que penso no que poderia ter feito para essa história dar certo. Me sufoco quando penso que me iludi estupidamente acreditando em um sentimento fora do contexto de uma pessoa. Acreditar que o amor transforma é coisa de gente carente. Como pude me afastar tanto do meu próprio amor? Agora é aquela coisa: beber muito vinho e ficar um tempo sozinha de afetos. Vinho porque comprovadamente faz bem ao coração. Sozinha porque estou preferindo a minha companhia.

Conheci uma pessoa virtualmente. Ele é um homem inteligente, artista, poeta, magnético. Conversamos longamente em versos. Dormimos juntos no astral por três noites seguidas. Ele me abraçou forte e disse que não ia me largar mais. Fiquei tão confortável naquele abraço que me esqueci de todos os problemas. Mas eu sou ansiosa e comecei a querer saber coisas do dia a dia e me atropelei no bate papo. Acho que ele não gostou muito de eu ter deixado nosso mundo poético para falar de coisas reais. Agora estou tentando me manter em estado de poesia para não perder esta conexão que eu gostei. Sabe, ele me fez sentir de novo o gosto do desconhecido. Mas nem dormir no astral ele quis mais, disse que vai dormir com o próprio umbigo. Eu vou ficar acordada, tenho receio de que essa relação virtual me deixe ainda mais solitária, e eu quero apenas solitude.









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